30.11.06




"Estamos bem, esperamos por todos mas não tenham pressa. P.S. Tragam roupa quentinha."

Miguel

O Inverno em Pequim

Porque mais não posso, resta o principio.
- ... Palavras?
- Sim, mas das que beijam.

Li Ya

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes

A. O'Neil

Esmeraram-se nos efeitos especiais, avião e montanha e tudo, deve ter ficado uma pipa de massa, bem diziam vocês que a viagem estava a ficar caríssima. Mas devo dizer que é um filme de acção de péssimo gosto, muito fogo de artifício, lindos cenários, mas o argumento é de fugir. Planos cortados, erros de racord, francamente... Que raio de realizador arranjaram? O Shyamalan não é, que já passaram tantas horas e ainda não se deu twist nenhum, daqueles bons que surpreendem toda a gente até vocês os dois que têm a mania que são espertos e descobrem tudo às primeiras cenas. Está a ser um falhanço de público, não há uma única pessoa que esteja a gostar de ver. Ouviram? Nenhuma.

Pronto, isto é um exemplo das 50 mil merdas que por esta altura me andam a passar pela cabeça. Triste, ah?

Acontece quando estou no silêncio da casa onde nunca foste, quando percorro sozinho o caminho que nunca andaste, quando aqui chego àquela hora solitária a que nunca estavas. Curioso. É precisamente nos lugares onde nunca te vi que a tua ausência mais me pesa.

Não vou escrever uma linha. Não quero embelezar a tua morte. A tua morte é feia, é estúpida, é canalha, é abjecta, mete nojo, é uma aberração de duas cabeças, dentes podres e mau hálito. Não há poesia na tua morte. A tua morte não existe. É uma daquelas coisas que os jornalistas inventam para encher páginas de jornais.

E diz aí ao teu amiguinho do lado que agora é que foi de vez. Estou mesmo muito chateada com ele.

29.11.06

(Vá, vamos lá embora que a gaja diz que quer falar contigo a sós e ali ao lado está uma multidão. Aqui também começa a estar, mas sempre é mais abrigadinho)



No lugar dos nossos recados, há agora um portal. Parece que vão à tua procura. Tens a audiência que nunca tiveste e que o patrão JPN sempre reclamou. Aqui também se respira o mesmo ar, e achei que podia deixar-te um primeiro recadinho. Temos uma conversa para ter. Temos, temos. Prepara-te bem, que vai demorar. E arranja-me umas almofadas, que, como sabes, tenho aquele problema. Faz-me um chá, que eu não sou como vocês, que bebem barris de cerveja e não engordam um grama. E depois vais-me explicar como é que chegas à minha vida para mexer em tudo, mexes, e depois vais viver para a Patagónia assim, sem deixar sequer uma morada. Ao menos tens vista para o rio?

Intérprete

A gente escreve-te, noticia-te, edita-te o melhor que pode e nada. Resistes. Tu que tantas vezes me obrigaste a condensar o mundo em duas linhas tens a suprema lata de resistir, de dizer que não, que não cabes num lead, que nunca te compreenderia com cinco perguntas apenas, que a pirâmide da tua história chega ao céu e jamais se poderia virar do avesso. Eu bem te dizia que o Chico tinha razão: a dor da gente não sai no jornal.

28.11.06

Isto é só para não ficares já para aí armada em parva porque não te escrevi nada para além de três linhas. E vou-te já dizer que no sábado te menti. Disse que ia regar as plantas à tarde, que não te preocupasses com as infiltrações porque já estava sol. Não fui lá no sábado e não voltei a pôr lá os pés e o sol já se foi e a chuva já voltou e não faço a mínima ideia de como estão as infiltrações e se calhar por esta altura as plantinhas já bebiam qualquer coisa. Ontem recebi o relatório a confirmar que a minha mensagem estava pendente e não foi entregue. Vá, ri-te lá, goza comigo e diz que eu nunca soube mentir.
Por aqui as coisas estão como tu imaginas, mas não exijas muito de mim, não me peças que te conte tudo, porque tu é que foste ver o mundo e nós é que estamos para aqui à espera de notícias e já andamos a desesperar.
Bom, isto tudo é só para te avisar que ainda não escrevi nada sobre ti, mas tenho uma boa desculpa. Por mais que tente, e vou tentar muitas vezes, eu não te consigo escrever.
O Miguel diz que te estás a rir muito de nós. E eu ando para aqui a pensar em coisas parvas, a ver se adio até não mais poder as saudades de me rir contigo. E elas já começaram a chegar. Enervante criatura.

Eu espero

Espero por ti, tardas. Cruzo todas as fontes à espera de um desmentido que não chega. Edito-te. Eu a ti, para ser diferente. Tu notícia, uma e outra vez esse meio sorriso repetido. Revolvo-te as gavetas e os poemas e ainda não te acho. Embrulho o teu atraso numa piada de mau gosto, rio-me de ti. Tenho de me rir de ti. Lembrar que os porcos podem ser cor de rosa, ter asas e voar em círculos atrás do rabo. Que é possível cavar uma multidão com um vómito. Ver um avião dar volta ao mundo sem sair do terraço. Despachas-te? Ni! Eu espero. Como sempre, eu quem espera. Revolvo-te as fotos, não me encontro. Há o Gabriel (já tem sobrancelhas, sabes?) Mas de mim nada. Não restou prova. Dos telhados, das portas entreabertas. Vens ou quê? Deixa lá, eu espero. Vou matando o tempo que já não há. Cuidando das raparigas, para me esquecer. Espero à tua porta. Fico. Cedo a uma música manhosa. Vens? Prometo chamar Jóia a mais ninguém.

Post a quatro mãos


Já disse todas as piadas parvas que me poderiam ocorrer e tu ainda não voltaste. ainda não voltaste. sim. sou eu.

O eu aqui de cima tem uma coisa para te dizer: qualquer coisa a ver com cortes de cabelo.

À Janela

Estávamos lá, duas, e tu também estiveste. Tirámos as duas o telemóvel, olhámos uma para a outra, quem liga à Zé?. E ficámos as três a ouvir, tu não estavas ali, mas estavas lá do outro lado, connosco. À Janela, lembras-te? Como agora, estamos aqui, e tu estás aí do outro lado. Já ligamos.

27.11.06

Hoje vens cá jantar, arrumo-me a mim e à casa num instantinho, faço o peixe no forno, tu vais repetir e dizer que está quase tão bom como os teus cogumelos. Sirvo-te da melhor parte, aquela que tu dizes que é deliciosa e comes de olhos fechados. Podes deter-te pelo meu decote, arrancar-me as calças como te apetecer. Deixas-te escorrer pelo meu peito, ris-te que não quando te pergunto se estou gorda, abraças-me, fazes uma piada de um filme que eu vi e não me lembro, olhas para o poster do Vertigo e perguntas quando vamos à loja comprar o Taxi Driver. Hoje repetimos e não precisas de ficar cá para de manhã.
Podemos conversar apenas, ultimamente temo-lo feito tão bem. Apertamos as mãos e fingimos que por ali não passam correntes químicas, e às vezes já não passam mesmo, falamos de taxas de juro e do teu carro novo, eu fumo um cigarro, tu reviras os olhos e perguntas quando é que eu largo aquilo, falas do polícia que os búzios me destinaram e eu contra-ataco e pergunto pela mulher de ancas largas e peito farto. Rimos. Tu apertas-me o nariz e entrelaçamos braços. Foi assim quando almoçámos no outro dia. Jantamos hoje?

- Éme Jóta Éme!
- Siíee …
- Verdade ou consequência?

3.11.06

Dawn

Foi no cais da manhã, 58 acima, no caminho das horas ao contrário, que os olhos se fecharam à noite.