31.5.06

Tempo(s)

Avenida 24 de Julho, um dia destes... Um daqueles relógios que há pelas ruas marca 9.54. Mais à frente, um segundo. 9.51. E, adiante, um terceiro. 9.47. Ainda pensei pedir ao taxista que seguisse sempre em frente. Mas não... Estava atrasada.

30.5.06

Comprehensive ID

28.5.06

Ampi-pur rádio

Na pasta de memória não há muitos ficheiros em formato .ch. Não sei se pela falta de nariz, se pela falta de lembrança, se por um erro na captação, se por um erro no armazenamento, o olfacto nunca foi gaveta primordial do tempo e nem as sensações algumas vez se colaram aos cheiros como aos sons e às palavras.

Por isso, também por isso, é sempre deslumbrada que fecho a porta e deixo entrar o cheiro verde e doce das agulhas de pinheiro.
Então, juro que balanço, derreto sempre um bocadinho e apresso-me a apertar o cinto. Então, por uns segundos, sorrio para dentro, respiro fundo e mando os olhos passear.

25.5.06

Mnemónica

Deixei escorrer o tempo e temo que o deserto se tenha entretanto inundado. E que a água tenha levado a história do guia que apontava para a cidade de braço cortado. E as lendas berberes com nome de dromedários de língua áspera a soar à mais bela melodia do deserto. E as mouras encantadas que todos os dias mudavam as tatuagens, do nariz para o queixo, do queixo para o nariz, e serviam chás sempre doces e amargos. E o árabe que se sentava no tapete de uma franja e tocava histórias do seu kasbah e de mil e uma noites. E as leis de uma terra onde um rei um dia disse que ninguém poderia ficar sozinho. E os rios que, num impulso, se levantaram do leito para deixar deitar os oásis. Mas um dia vou contar tudo. Se entretanto o deserto não me atraiçoar.

24.5.06

E mais...

Se um certo post que mete areia e autocaravanas não for escrito muito - mas muito - rapidamente, adivinhem quem vai escrevê-lo?

17.5.06

Mail interno/Intimação

Se ninguém escrever um certo post nas próximas 24 horas, adivinhem quem vai escrevê-lo. Hum?

7.5.06

O parque da vila azul

Tinham comprado a carrinha por impulso. Antes de ser cinzenta riscada a laranja gráfico, foi respigo num coma de ferrugem. Hoje, havia uma criança de sardas e tranças a espreitar pela teia de tinta, criando ruído à decoração de “atenção, aqui seguem punks sujos e descompensados, com fortes instintos militares”. A pintura foi pensada para impressionar a estrada, desafio de guerra a cada perigo. A foto da criança foi colada para se deslumbrar ao primeiro instante de cada chegada.
Quando a compraram por impulso, estava parada entre uma carcaça de um táxi e uns ferros que um dia foram automóvel. Tal como a vedação que rodeava aquele cemitério auto-transportado dos arredores de Berlim, não batia certo. As rodas eram altas e robustas, o revestimento da carroçaria bruto e bélico, a cabine do condutor agachada e tímida. Lá atrás, nem uma única janela para respirar. ‘Apenas por 800 euros’, dizia o anúncio escrito à mão numa cartolina que se encolhia quando chegava ao ‘s’.
- Consigo chegar aos 500, lançou-lhe ele com aquele olhar ao qual ela só sabia responder com um abraço de lhe chegar aos ossos.
- Imagina que até consegues baixar para os 500, e depois, onde é que a guardamos?
- Pois, não temos lugar para ela. Não a podemos parar nem estacionar.
Foi ai que ela pegou nas suas ferramentas de serralharia e ele nos seus instrumentos equilibristas. Despediram-se do que tinham para se despedir e foram ver o mundo.