28.7.05

natureza morta


(MJM)


Ele estava sentado, cabeça caída, em cima de um hipopótamo. Sobre a perna, o peso do corpo, apenas alguns gramas. Olhar concentrado numa folha de jornal, incólume à passagem das gentes. A sensual indiferença, iluminada por um foco de luz fosca, faz-se descobrir a meio do caminho.
Um dia vou encontrar-te assim. E vamos resgatar-nos aos nossos hipopótamos.

27.7.05

post (des)escrito

O que pode teclar um dedo a quem falta carne por dentro e sobra gaze por fora?
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Verão de lareira acesa

Mesmo quando estão 40 graus à sombra, a chuva cheira a lareira e a meia-luz. Submerge o mundo numa paz outonal, a ilha das ilhas no arquipélago da calma conhecida. Mas, neste tempo, o Outono foi contaminado por laivos de Verão e inquietude. Daquele tipo de Verão em que tudo arde, acusando o toque do mais leve cheiro a faísca. Por esta altura, a chuva não é mais do que um contentor de oxigénio. O pirómano por excelência.

24.7.05

ideia pouco jooli

Em termos pragmáticos, consta que somos o que comunicamos. Há dias em que o verbo me atraiçoa de tal forma que, seguindo esse princípio, me acontece sentir-me envergonhado da pobreza que me define.

22.7.05

Há sextas que parecem segundas


Acordei com uma neura injustificada. Daquelas que nos corroem as paredes gástricas e consomem a possibilidade de qualquer sorriso sincero. Peço por isso perdão ao mundo num genuíno acto de contrição. E mantenho: a boa disposição é um dever cívico. Bom dia.

21.7.05

evangelho segundo a segundo


E ao 1316238 dia, quis o Senhor abrir uma nova janela. Uma ideia jooli se assomou. E o Senhor viu que isso era bom.

19.7.05

425

O caminho parte de quatro pontes, cada uma de cem. Nem mais nem menos. As contas fazem-se acima dos quatrocentos, seguindo em frente, remo a remo, sempre a subir. Contorna-se a primeira dezena, suavemente, como quem está a ganhar balanço. Quatrocentos e dez. Segue-se na penumbra, deslizando sobre o veludo negro petróleo, com os olhos abertos de quem não quer perder nenhum algarismo, incrédulos pela ausência de peso. A conta é mágica e a viagem de apenas uma volta. Não há tempo para descansar as pálpebras, pesadas na suavidade de uma massagem veneziana. Apenas o pensamento, embalado pela euforia inocente de quem olha o mundo pela primeira vez, alinhado pelo parapeito das janelas. O caminho é cravado gota a gota, sem alterar o equilíbrio das moléculas líquidas. Quatrocentos e vinte. Útero quente e húmido, com artérias para respirar. Com a precisão cirúrgica de quem constrói um quadro impressionista a pinceladas ondulantes, o remo toca a parede e serpenteia no estreitar do caminho. A conta é de embalar e só passaram cinco algarismos. Quatrocentos e vinte e cinco é o número derradeiro, cais de chegada, degrau de partida. E é o número preciso dos gondoleiros que cabem nas veias da cidade. Nem mais nem menos. Quatrocentos e vinte e cinco.

18.7.05

A origem da tragédia

Para que Adão não se sentisse só, o senhor fê-lo cair num sono pesado, retirou-lhe o cérebro e fechou a carne no seu lugar. Do cérebro fez a mulher. E assim se salvou o homem da solidão e se condenou a mulher a uma companhia eternamente desprovida de cogito.

self service

- Olhe, por favor, queria um depois agora.
- Desculpe, mas não temos serviço de mesa...

16.7.05

Génesis

E ao 1316234 dia o senhor criou o Termo de Identidade e Resistência. Já não era sem tempo.