25.5.06

Mnemónica

Deixei escorrer o tempo e temo que o deserto se tenha entretanto inundado. E que a água tenha levado a história do guia que apontava para a cidade de braço cortado. E as lendas berberes com nome de dromedários de língua áspera a soar à mais bela melodia do deserto. E as mouras encantadas que todos os dias mudavam as tatuagens, do nariz para o queixo, do queixo para o nariz, e serviam chás sempre doces e amargos. E o árabe que se sentava no tapete de uma franja e tocava histórias do seu kasbah e de mil e uma noites. E as leis de uma terra onde um rei um dia disse que ninguém poderia ficar sozinho. E os rios que, num impulso, se levantaram do leito para deixar deitar os oásis. Mas um dia vou contar tudo. Se entretanto o deserto não me atraiçoar.