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O caminho parte de quatro pontes, cada uma de cem. Nem mais nem menos. As contas fazem-se acima dos quatrocentos, seguindo em frente, remo a remo, sempre a subir. Contorna-se a primeira dezena, suavemente, como quem está a ganhar balanço. Quatrocentos e dez. Segue-se na penumbra, deslizando sobre o veludo negro petróleo, com os olhos abertos de quem não quer perder nenhum algarismo, incrédulos pela ausência de peso. A conta é mágica e a viagem de apenas uma volta. Não há tempo para descansar as pálpebras, pesadas na suavidade de uma massagem veneziana. Apenas o pensamento, embalado pela euforia inocente de quem olha o mundo pela primeira vez, alinhado pelo parapeito das janelas. O caminho é cravado gota a gota, sem alterar o equilíbrio das moléculas líquidas. Quatrocentos e vinte. Útero quente e húmido, com artérias para respirar. Com a precisão cirúrgica de quem constrói um quadro impressionista a pinceladas ondulantes, o remo toca a parede e serpenteia no estreitar do caminho. A conta é de embalar e só passaram cinco algarismos. Quatrocentos e vinte e cinco é o número derradeiro, cais de chegada, degrau de partida. E é o número preciso dos gondoleiros que cabem nas veias da cidade. Nem mais nem menos. Quatrocentos e vinte e cinco.
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