28.11.05

Só faltou isto

Entrego a minha voz
ao coração do vento
e quanto mais água
dos meus olhos corre
mais fogo acendo

Eu não me entendo
Eu não me entendo

Mas atendendo ao resto, a malta perdoa...

27.11.05

À janela

Letra: David Mourão Ferreira
Música: Reinaldo Varela
Voz: Camané

É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
....
Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.

26.11.05

Feira da Ladra

Descia pela nuca, dedos enrolados nas enroladas ideias do seu cabelo. Facto fabricado, pelo que consta. Depois o nariz, emerso, comprava no mercado negro dos seus caracóis. As pernas subiam as escadas 14 a 14 e, enquanto isso, os olhos negociavam tudo sobre o burro e o cigano. A pele sussurrava tu vendes, eu compro, as mãos apertavam-se em negócio fechado.

Allergic to something in the air

A certa altura, surgiu-lhe a tosse. Incomodava, mas não doía, desesperava, mas não sufocava, expelia, mas não libertava, preocupava mas não paralisava. Abriu guerra ao ar. E não se sabe quem, hasteando a bandeira, atirou primeiro. A bala surgiu desconhece-se de que lado. Não há ideia de quem, derradeiro, cairá ao chão.

25.11.05

Dos transtornos do tempo

"Tua será também a certeza de que o tempo se esquece dos seus ontens e de que nada é irreparável."

Jorge Luís Borges

Previsões meteorológicas do dia

Transtornou-se o tempo.

21.11.05

Palavras para quê?...

19.11.05

Isaías, 05:11

Abriu-se a caixa de pandora. É sempre no Inverno.

Celta

últimas chuvas

Pode ser uma miragem, mas ainda não agradeci à miragem o facto de me fazer sentir viva.

17.11.05

Histórias de (des)encantar

Todas as noites o sino toca as doze badaladas e, calado o eco da última, aquele perfil de luz irrompe pelas janelas já transformado em escuridão. Imagino a Cinderela a descer aquelas escadarias, mas a minha Cinderela não tem redenção. Perdido o sapato, perdido o príncipe, perdida a silhueta da carruagem na escuridão: naquele breu não há sapato nem príncipe nem maneira de sair dali nem de ali ser encontrado. Todas as noites são um desencontro, todas as noites é assim, o meu príncipe e a minha princesa são irmãos de Prometeu.

Uma destas noites as luzes não se apagaram. Nunca tinha acontecido, bateu a meia noite, calou-se a última badalada, a escuridão não chegou. Imagino-os a encontrarem-se, conheciam-se, pressentiam-se, estiveram sempre ali, é agora, foi agora.

Não sei se partiram e viveram felizes para sempre...
Na noite seguinte as luzes voltaram a apagar-se.

16.11.05

Post alegre

Há 20 anos que me rio por ti, às vezes de ti, sempre contigo. És o sorriso, sei-o de ciência certa, que manterei SEMPRE.

13.11.05

Cidades invisíveis

Há uma parte de ti que é só minha. Entrou por uma fresta mal calafetada, chegou-se à lareira e segredou-me histórias de cidades invisíveis junto ao mar. Prometeu-me que um dia se sumirá na maresia, antes que a possas conhecer. A certidão de óbito já está escrita - morte por afogamento. Na realidade.
E também eu deixei a promessa. Na terra dos sonhos não se morre, nem há funerais.

10.11.05

Conjugações II

O pretérito conjuga-se no imperfeito, que era para ter sido tudo o que não foi. O futuro joga-se na suposição do condicional, que seria se alguma vez viesse a ser. O presente agarra-se no gerúndio para que ao menos vá sendo.

7.11.05

I fought the law, and the law won

Haverá em todo o mundo melhor coisa do que as guitarras dos Clash?

Well I'm running police on my back
I've been hiding police on my back
There was a shooting police on my back
And the victim well he won't come back

I been running monday tuesday wednesday
Thursday friday saturday sunday runnin
monday tuesday wednesday thursday friday
Saturday sunday


(trrrararrrArrrrararrrrrArrRararararrarraR)

What have I done?

police on my back

Já andava há que tempos para escrever um post alegre. Ora pois aqui está ele.

5.11.05

Serial killer


-Não deixes de acreditar.

-Não. Não deixo.

- De certeza?

-De certeza.

- Não vais deixar morrer nada?

-Só a ti.