17.11.05

Histórias de (des)encantar

Todas as noites o sino toca as doze badaladas e, calado o eco da última, aquele perfil de luz irrompe pelas janelas já transformado em escuridão. Imagino a Cinderela a descer aquelas escadarias, mas a minha Cinderela não tem redenção. Perdido o sapato, perdido o príncipe, perdida a silhueta da carruagem na escuridão: naquele breu não há sapato nem príncipe nem maneira de sair dali nem de ali ser encontrado. Todas as noites são um desencontro, todas as noites é assim, o meu príncipe e a minha princesa são irmãos de Prometeu.

Uma destas noites as luzes não se apagaram. Nunca tinha acontecido, bateu a meia noite, calou-se a última badalada, a escuridão não chegou. Imagino-os a encontrarem-se, conheciam-se, pressentiam-se, estiveram sempre ali, é agora, foi agora.

Não sei se partiram e viveram felizes para sempre...
Na noite seguinte as luzes voltaram a apagar-se.