12.7.06

ténis sem rede

Não era um jogo de ténis normal. Em vez de os olhos seguirem a bola da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, esticando o pescoço no mesmo compasso invariável, em movimentos paralelos sem nunca se tocarem, os olhos jogavam descompassados, faziam razias e fugiam. Ora agora olho eu, ora agora olhas tu. O jogo de ténis já durava há mais de meia hora, jogava-se para o empate. Para o embate.
Ele não passava da mesma frase, já a lera três vezes sem lhe tirar o sentido. Ela olhava o mar ao fundo - Viro-me à terceira onda que passar a linha da areia molhada. Ele virou finalmente a página, largando a revista em cima da mesa, com as folhas a lutar com o vento. Ela pediu uma imperial. Ele encostou-se na cadeira. Ela fingiu que não percebeu e sacou do moleskine. Ele pousou para a descrição que ia nascendo na folha quadriculada. Ela parou de escrever. Ele parou de pousar. Ela levantou os olhos e sorriu. Ele levantou as pernas e arrastou a cadeira para a sua mesa.