Chuva agridoce
Há um certo reboliço que nos cola costas com costas à cadeira e que nos mantém ali horas, em silêncio, a tentar embalá-lo. A chuva veio, mas não trouxe a calma habitual. Desperdicei cada gota como desperdicei cada minuto de tanto andar para trás e para a frente no tempo. Não quero desperdiçar tempo. Mas não quero aproveitar o tempo se for puro desperdício. Quero e não quero. Gosto tanto de não fazer nada como de fazer o que gosto, mas não gosto dos dias que não sabem a nada. Não gosto do que não sabe a nada. E a memória desse sabor tem atormentando as minhas papilas gustativas, que entretanto abriram uma pequena guerra aos maxilares. Estão costas com costas. Eles, primatas, porque querem agarrar, elas, sapiens, porque temem provar.
2 Comments:
Cantado à chuva e ao vento andei a enganar as horas.
José Afonso, a páginas tantas
bom post.
Enviar um comentário
<< Home