29.12.06

De tanto a observar, já a vi como imagem gráfica. Se fosse engolida por uma jibóia, não seria um elefante mas um horizonte de montanha que sobe, desce em planalto, sobe a pique, desce a pique, sobe, desce e termina num sibilado “e”.
De tanto a repetir, já a ouvi como puzzle decomposto em letras e sílabas, aliteração de “as” e “dês” feita por lábios que se afastam, língua que se comprime no céu da boca e dentes que fecham o som.
Já a senti como pontada seca contra o peito, choque eléctrico tão ao de leve que só por um bocadinho assim é que não acende as luzes dos prédios num raio de três quarteirões e ainda consegue injectar energia no rés-do-chão da primeira casa da rua a seguir.
Pior é quando a vejo como agora, assim calma, em passeio de domingo pelas ruas da memória, os raios de sol a aquecerem as costas, os meio sorrisos, as conversas esticadas em bancos de jardim. E depois abrir os olhos, e pôr-se o frio, o nevoeiro e o silêncio cego das nuvens.

Saudade

1 Comments:

Blogger JPN said...

Anda alguém pela noite de breu à procura? Presente! beijo

2:07 da manhã  

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